No último domingo (1) o blog do Rhyann Souza, no site Manchete RJ, deu início a uma série de entrevistas com personalidades do mundo esportivo, sendo João Palomino, ex-chefe dos canais ESPN, o primeiro convidado.
Dando continuidade a resenha, o blog conversou com Guilherme Frossard, jornalista graduado pela PUC Minas. Frossard trabalhou na Globo de 2015 a abril de 2024, ganhando notoriedade e tornando-se uma das grandes referências do esporte de Minas Gerais. O jornalista de 29 anos é natural de Belo Horizonte, mas parte da família paterna é de Campos dos Goytacazes.
Em abril desse ano o mineiro decidiu deixar o esporte da Globo, criando logo em seguida o Canal do Frossard, no Youtube, dando voz principalmente ao Clube Atlético Mineiro, um dos seus grandes amores. Confira!
Frossard, você tem uma trajetória de sucesso no jornalismo esportivo mineiro, mas todo começo é repleto de desafios. Como foi o seu início?
Eu não sabia muito bem o que estava fazendo ou onde queria chegar, pra ser sincero. Entrei na faculdade sem ter um plano de carreira muito bem definido. Só sabia que queria trabalhar com esporte, mas não sabia por onde começar. No terceiro período da faculdade, uma amiga me disse que a Globo, em Belo Horizonte, estava com processo seletivo pra contratar um estagiário pra redação de esportes. Sem muito acreditar na possibilidade, me inscrevi. Acho que mandei muito bem, porque disseram que eu era muito novo pra vaga, mas que queriam contar comigo a partir do ano seguinte. Entrei na Globo em fevereiro de 2015, como estagiário, e fui contratado na empresa logo após minha formatura. Minha carreira no jornalismo é praticamente toda dentro da Globo.
Falando na correria do dia a dia, o jornalismo é recheado de histórias. Pode nos contar um fato curioso e outro que te deixou aflito durante esses anos?
São milhares de histórias, mas uma das que mais me marcou foi o plantão da morte do Pelé. Eu era repórter do Globo Esporte em BH, e o Pelé estava muito mal de saúde, internado em São Paulo. A Globo decidiu enviar duas equipes completas de reportagem (ou seja, oito pessoas) pra Três Corações, cidade do Rei, pra cobrir a repercussão no momento da morte. Só que era Natal e, obviamente, não sabíamos quando exatamente ia acontecer. Ficamos (os oito) por cinco dias em Três Corações, numa tensão a todo momento, esperando o momento da morte do Pelé. Como eu entraria ao vivo minutos depois da notícia, eu ficava preparado pra isso 24 horas por dia. Colocava vários despertadores pra tocar durante a madrugada, tomava três banhos por dia, deixava a roupa já passada, entre outras coisas. Acontece que foram cinco dias de muita tensão pra nada. Nosso plantão terminou no dia 28 de dezembro, e ele morreu dia 29, já com outra equipe de plantão. Das histórias que o jornalismo proporciona. Essa é, ao mesmo tempo, curiosa e que me despertou aflição.
Ainda falando dessas histórias, no jogo entre Atlético-MG e Palmeiras, pelas oitavas da Libertadores de 2023, você comeu um churrasquinho, mas teve que recusar a cerveja oferecida pelos atleticanos. O coração doeu um pouco?
Não doeu porque aquilo não era cerveja. Nunca contei isso, mas era algo bem mais forte. Um whiskey, talvez, não sei. Só o cheiro já estava muito forte e, como eu estava trabalhando, não estava disposto a tomar algo tão pesado assim, do nada. Então foi tranquilo recusar.
Qual a sua maior referência dentro do jornalismo esportivo?
Pergunta difícil, porque são várias. Pra citar um só, cito Tino Marcos. Gênio da profissão e exemplar em tudo que fez e faz.
Qual seu maior ídolo no esporte?
Preciso separar esportistas atleticanos e esportistas não atleticanos. Se tratando de Galo, meu maior ídolo é o Victor, hoje diretor de futebol do clube. Entendo que a defesa que ele fez contra o Tijuana, nas quartas de final da Libertadores de 2013, isolou todo o azar que o Clube Atlético Mineiro carregava. Dali pra frente, em um intervalo de pouco mais de 10 anos, já ganhamos Libertadores, Brasileiro, duas Copas do Brasil, Recopa, Supercopa e quase todos os Mineiros que disputamos. Nunca vou esquecer aquele dia. Mas Hulk já está quase empatando com São Victor. Tirando o Galo da conta, meu maior ídolo no esporte é o Romário. Pelo que foi como atacante e pelo personagem que é. Meu lado jornalista me faz ser fã de atletas que são, também, ótimos personagens, dão boas entrevistas, etc. E o baixinho é fora de curva com a bola no pé e também como entrevistado.
Em 2015 você chega na Globo Minas e logo se torna uma referência. Mas em abril de 2024 você pediu demissão da emissora após nove anos. Como foram os dias antes de tomar essa decisão?
Tensos, naturalmente. Não foi uma decisão fácil, mas foi muito bem pensada, o que me deu certa tranquilidade. Passei mais de um ano planejando como eu executaria o projeto do Canal do Frossard e, quando decidi comunicar minha saída da emissora, estava muito convicto da decisão. De toda forma, não foi simples. Foram mais de nove anos. Muita história, muitos amigos, muita gratidão, muito orgulho. Foram dias sensíveis, mas deu tudo certo, graças a Deus.
O seu canal no youtube, o Canal do Frossard, que foi lançado a pouco tempo, conta com quase 30 mil seguidores. Qual a sensação de poder produzir o seu próprio material e ver esse crescimento?
É como ver o sucesso de um filho. Pensei (e penso) com muito carinho no conteúdo do Canal do Frossard, dia após dia. Ver o crescimento do Canal me enche de orgulho. Que seja o início de uma linda história, como conquistei na Globo.
Acredito que o seu canal seja uma forma de colocar pra fora o seu lado torcedor atleticano em alguns momentos. Qual foi a sensação de poder revelar o seu time do coração e de poder criar conteúdos do Galo?
É um alívio, sem dúvida. Sou torcedor de arquibancada desde muito antes de ser jornalista. Poder vestir a camisa do Galo e sair na rua, por exemplo, é legal. Parece bobeira, mas não pude fazer isso por muitos anos, e agora posso. Não que fosse um grande problema na época da Globo, porque eu entendia que fazia parte da profissão, mas não ter que esconder algo tão relevante na minha vida deixa tudo mais leve.
Na TV acredito que você tenha tido uma produção e equipe que te auxiliaram diariamente, mas como funciona o trabalho na internet? É uma produção um pouco mais singular?
É quase que uma banda de um homem só. Eu bato o escanteio pra eu mesmo fazer o gol de cabeça. É muita coisa. São muitas demandas que, por enquanto, resolvo sozinho. Mas a parte boa é que eu produzo somente aquilo que eu acho que faz sentido produzir. Na época da TV, evidentemente, eu tinha uma equipe que auxiliava meu trabalho, mas era comum eu ter que produzir uma reportagem sem ver relevância na pauta, por exemplo. E isso era desgastante. No canal, trabalho mais, mas gasto energia só com aquilo que eu acho que faz sentido.
Como está sendo pra você ser colunista no portal O Tempo?
Uma experiência muito legal. É o portal mineiro com maior audiência na internet, e voltar a escrever diariamente me deixa muito feliz. Antes de ser repórter da TV, fui repórter do portal esportivo da Globo (hoje ge.globo) por seis anos. A escrita faz parte da minha vida e, em O Tempo, volto a ter esse espaço. Uma grande responsabilidade, pelo tamanho do portal, mas uma alegria tão grande quanto. Escrever de Galo, pra mim, é fácil.
Falar sobre futebol é lidar com o sentimento de muitos. Como você lida com as críticas e com os elogios?
Com muita tranquilidade, desde que haja respeito. Ninguém é obrigado a concordar comigo, mas a respeitar, sim. Adoro debater com os que discordam numa boa – a discordância é saudável e deve ser, inclusive, estimulada. Se não respeitou, bloqueio e sigo a vida. Gasto energia com o que acho que vale a pena. Sobre os elogios (graças a Deus acontecem com maior frequência que as críticas), fico feliz, evidentemente, mas não deixo que me deslumbrem. Preciso me manter atento diariamente pra fazer meu trabalho bem feito. Sou bom no que faço pelo esforço diário, e não por algum dom inabalável. É seguir trabalhando com a mesma dedicação de sempre.
Vamos falar das quatro linhas. Onde os times mineiros podem chegar nessa reta final de temporada?
Vejo o Atlético não como favorito, mas candidato nas duas Copas que disputa (do Brasil e Libertadores). Nos torneios de mata-mata, o importante é você encontrar o melhor futebol nas fases decisivas, e acho que temos time e treinador pra isso, apesar de a temporada ter sido muito irregular até aqui. No Brasileiro, a briga é por G-6. O Cruzeiro, ao meu ver, é candidato a título na Sul-Americana e candidato a vaga na Libertadores via Brasileiro. O time é bom (o primeiro em muitos anos), e Fernando Seabra é bom treinador também.
Dia de Cruzeiro e Atlético é um dia muito diferente pra você?
Muito, mas já foi mais. Quando torcedor, já acordava nervoso, mas tem quase 10 anos que vivo o clássico como jornalista, e aí é obrigatório controlar as emoções. Mas é diferente, sem dúvida. Clássico sempre é diferente.
Qual foi a maior glória e a maior decepção já vivida com o Galo?
A maior glória foi o título da Libertadores de 2013, sem dúvida. 24 de julho de 2013, o dia mais feliz da minha vida. A maior decepção creio que foi a derrota pro Palmeiras na semifinal da Libertadores de 2021. O Galo merecia ganhar tudo naquele ano, e eu estava confiante demais. Fomos melhores, mas fomos eliminados. Sofri naquele dia, bem mais que sofri na queda pro Raja Casablanca, por exemplo, no Mundial de 2013. Mas faz parte. Futebol é assim mesmo.
Na sua visão, os times de Minas Gerais recebem menos atenção do que os clubes de São Paulo e Rio de Janeiro, em relação à cobertura esportiva nacional?
Sim, mas vejo como uma questão natural. As grandes empresas de comunicação são paulistas ou cariocas. A produção é concentrada ali, por maior que seja a empresa. A visão ainda é muito centrada nos clubes desses dois locais. Por isso entendo que a produção de conteúdo especializada só cresce. O atleticano, por exemplo, cada vez mais consome menos conteúdo “de rede” pra consumir mais conteúdo de quem, de fato, entende do Galo. Faz parte. Vejo com muita naturalidade.
Eu moro em Campos dos Goytacazes, no estado do Rio de Janeiro, e alguns amigos flamenguistas já me disseram que a rivalidade com o Atlético é bem maior pelo lado atleticano do duelo. Você concorda com essas opiniões? Como você avalia essa rivalidade interestadual?
Isso aí é um sintoma claro do Flacentrismo. O flamenguista médio acha que o mundo gira em torno do Flamengo, mas a verdade é que não é assim. O atleticano tem uma rivalidade grande com o Flamengo simplesmente porque se sente injustiçado em episódios que o rival foi o Flamengo (80 e 81, principalmente). A rivalidade seria com o Asa de Arapiraca se fosse o Asa eliminando um dos melhores times da história do Atlético no apito. Faz parte. Sobre a tal “rivalidade unilateral” que parte da torcida do Flamengo defende que existe, eu dou risada. A gente não precisa ir longe pra provar o contrário. Em 2022, por exemplo, na Copa do Brasil, o Flamengo perdeu pro Galo no Mineirão e resolveu no Maracanã. A torcida criou todo um clima de “inferno” e foi pro estádio “no ódio” pra eliminar o Atlético (que havia ganhado título em cima do Flamengo nesse mesmo ano). Eu já trabalhei em dezenas de jogos do Flamengo no Maracanã, e nunca vi festa parecida com a daquele dia. Seria daquele jeito se o rival fosse outro? Tenho certeza que não. O flamenguista razoável admite que existe, sim, a rivalidade dos dois lados. O Galo já meteu 6 no Flamengo neste século, já virou uma semifinal de Copa do Brasil de forma história em cima do Flamengo (e foi campeão), ganhou título em cima do Flamengo dois anos atrás… Isso machuca o flamenguista, que recorre ao argumento flacentrista de “rivalidade unilateral” pra se defender. Não é unilateral, evidentemente.
Voltando para o assunto futebolístico, você arriscaria os campeões da Copa do Brasil, Campeonato Brasileiro, Sul-Americana e Libertadores de 2024?
Hummm, vamos lá. Vou arriscar: Atlético (Copa do Brasil), Botafogo (Brasileiro), Fortaleza (Sul-Americana) e Botafogo (Libertadores). Acho que o Botafogo vai ter um ano mágico nesta temporada. Time bom, treinador bom e muito desejo de taça acumulado. Vivi isso com o Galo em 2021 e sei como é. Uma hora abre a porteira.
Seleção Brasileira é algo que mexe com você?
Sim, mas já mexeu mais. Em Copa do Mundo, ainda me envolvo muito, mas não morro se ficar sem assistir a um jogo de Eliminatórias, por exemplo. Amistoso eu só assisto se for um jogo muito bom. Acho chato.
Se o Guilherme Frossard de hoje pudesse encontrar com o Guilherme Frossar do passado, qual conselho daria?
Pra seguir da forma que sempre foi: tranquilo, sem fazer planos de longo prazo e focado no dia de amanhã. Deu certo até aqui, não tem que mudar.
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